Lixo:conseqüências, desafios e soluções

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Ao longo dos anos, o lixo passou a ser uma questão de interesse global. E os problemas são os mesmos de um lado a outro do globo: o destino do lixo e seu acondicionamento inadequado têm trazido graves problemas a todas as nações. Produzidos em todos os estágios das atividades humanas, os resíduos, em termos tanto de composição como de volume, variam em função das práticas de consumo e dos métodos de produção utilizados. As principais preocupações estão voltadas para as repercussões que podem ter sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente (solo, água, ar e paisagens).

Neste sentido, este trabalho busca mostrar as consequências causadas pelo destino incorreto do lixo, bem como propor formas de minimizar e de recuperar os resíduos gerados, garantindo a saúde e segurança da população.

GERAÇÃO DE LIXO x DESENVOLVIMENTO


O “lixo” é uma grande diversidade de resíduos sólidos de diferentes procedências, dentre eles, o
resíduo sólido urbano gerado em nossas residências. O lixo faz parte da história do homem, já que sua produção é inevitável (Fadini et al., 2001).

Na Idade Média acumulava-se pelas ruas e imediações das cidades, provocando sérias epidemias e causando a morte de milhões de pessoas. A partir da Revolução Industrial iniciou-se o processo de urbanização, provocando um êxodo do homem do campo para as cidades.

Observou-se assim um vertiginoso crescimento populacional, favorecido também pelo avanço da medicina e consequente aumento da expectativa de vida. A partir de então, os impactos ambientais passaram a ter um grau de magnitude alto, devido aos mais diversos tipos de poluição, dentre eles a poluição gerada pelo lixo. O fato é que o lixo passou a ser encarado como um problema, o qual deveria ser combatido e escondido da população. A solução para o lixo naquele momento não foi encarada como algo complexo, pois bastava simplesmente afastá-lo, descartando-o em áreas mais distantes dos centros urbanos, denominados lixões (Fadini et al., 2001).

Nos dias atuais, com a maioria das pessoas vivendo nas cidades e com o avanço mundial da indústria provocando mudanças nos hábitos de consumo da população, vem-se gerando um lixo diferente em quantidade e diversidade. Até mesmo nas zonas rurais encontram-se frascos e sacos plásticos acumulando-se devido a formas inadequadas de eliminação. Segundo Bidone citado por Fadini et al. (2001), em um passado não muito distante a produção de resíduos era de algumas dezenas de quilos por habitante/ano; no entanto, hoje, países altamente industrializados como os Estados Unidos produzem mais de 700 kg/hab/ano. No Brasil, o valor médio verificado nas cidades mais populosas é da ordem de 180 kg/hab/ano.

A produção elevada de lixo norte-americana deve-se ao alto grau de industrialização e aos bens de consumo descartáveis produzidos e amplamente utilizados pela maioria da população. No caso do Brasil, a geração do lixo ainda é, em sua maioria, de procedência orgânica; contudo, nos últimos anos vem se incorporando o modo de consumo de países ricos, o que tem levado a uma intensificação do uso de produtos descartáveis (Fadini et al., 2001).

lixo causas e consequências

O lixo representa, hoje, uma grande ameaça à vida no Planeta por duas razões fundamentais: a sua quantidade e seus perigos tóxicos. Em toda parte do mundo, a mídia incentiva as pessoas a adquirirem vários produtos e a substituírem os mais antigos por outros, mais modernos, provocando a insensatez do uso indiscriminado dos recursos naturais. Este fato tem levado ao grande volume de lixo produzido no mundo, cujo aumento foi três vezes maior que o populacional, nos últimos 30 anos (Menezes et al., 2005). A taxa de geração de resíduos sólidos urbanos está relacionada aos hábitos de consumo de cada cultura, onde se nota uma correlação estreita entre a produção de lixo e o poder econômico de uma dada população (Fadini et al., 2001).

Do material descartado no Brasil, 76% é abandonado a céu aberto em locais impróprios, permitindo a proliferação de vetores capazes de transmitir várias doenças. A matéria orgânica disposta de forma desordenada entra em processo de putrefação, formando uma outra mistura complexa de gases de metano, dióxido de carbono, sulfídrico, amônia e outros ácidos orgânicos voláteis, os quais, quando em contato com o sistema respiratório de seres humanos, podem causar lesões irreversíveis e levar à morte. Um outro problema é a contaminação dos recursos hídricos devido à migração de chorume (Fadini et al., 2001).

SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA DO LIXO

Os resíduos sólidos domésticos, comerciais, industriais e das operações agrícolas, apresentam cada vez mais papéis, plásticos, vidros, um sem número de tipos de embalagens. Todo este material cria crescentes problemas de coleta, despejo e tratamento. Seus depósitos constituem-se muitas vezes em foco de crescimento de mosquitos e roedores. Podem até reduzir o valor dos terrenos sobre os quais se acumulam. Todo esse material contribui enormemente para a deterioração do ambiente humano (Tommasi, 1976).

Os resíduos gerados por aglomerações urbanas e, também, por processos produtivos constituem um grande problema, tanto pela quantidade quanto pela toxicidade de tais rejeitos. A solução para tal questão não depende apenas de atitudes governamentais ou decisões de empresas; deve ser fruto também do empenho de cada cidadão, que tem o poder de recusar produtos potencialmente impactantes, participar de organizações não-governamentais ou simplesmente segregar resíduos dentro de casa, facilitando assim os processos de reciclagem. O conhecimento da questão do lixo é a única maneira de se iniciar um ciclo de decisões e atitudes que possam resultar em uma efetiva melhoria de qualidade ambiental e de vida (Fadini et al., 2001).

O manejo inadequado de resíduos sólidos de qualquer origem gera desperdícios, constitui ameaça constante à saúde pública e agrava a degradação ambiental, comprometendo a qualidade de vida das populações, especialmente nos centros urbanos de médio e grande porte.

A situação evidencia a urgência em se adotar um sistema de conscientização educacional adequado para o manejo dos resíduos, definindo uma política para a gestão e o gerenciamento, a qual assegure a melhoria continuada do nível de qualidade de vida, promovendo ações práticas recomendadas para a saúde pública e protegendo o meio ambiente (Sanches et al., 2006).

Por outro lado, o descarte inadequado de resíduos sólidos nos centro urbanos, sem qualquer tratamento, está contaminando os lençóis freáticos de várias regiões brasileiras. Essa situação é ainda pior ao se considerar que a água potável vai se tornar, em breve, um fator de grande competitividade entre as nações, pois está transformando-se em recurso cada vez mais escasso (Sanches et al., 2006).

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A compreensão da problemática do lixo e a busca de sua resolução pressupõem mais do que a adoção de tecnologias. Uma ação na origem do problema exige reflexão não sobre o lixo em si, no aspecto material, mas quanto ao seu significado simbólico, seu papel e sua contextualização cultural, e também sobre as relações históricas estabelecidas pela sociedade com os seus rejeitos (Site Monografias).


As mudanças ainda são lentas na diminuição do potencial poluidor do parque industrial brasileiro, principalmente no tocante às indústrias mais antigas, que continuam contribuindo com a maior parcela da carga poluidora gerada e elevado risco de acidentes ambientais, sendo, portanto, necessários altos investimentos de controle ambiental e custos de despoluição para controlar a emissão de poluentes, o lançamento de efluentes e o depósito irregular de resíduos perigosos (Site Monografias).

MÉTODOS DE ARMAZENAMENTO OU TRATAMENTO DO LIXO

ATERRO SANITÁRIO

Grande parte do material que é descartado e deve ser armazenado em depósitos não é perigoso, correspondendo simplesmente a lixo doméstico ou resíduo. O principal método para armazenar o lixo sólido municipal é a sua colocação em um aterro sanitário (em alguns casos denominados depósito de lixo ou lixão), o qual consiste em uma grande escavação no solo (ou mesmo uma parte descoberta ao nível do solo) que em geral é coberta com solo e/ou argila, uma vez que esteja preenchida. Por exemplo, no Reino Unido, entre 85 e 90% do lixo doméstico e comercial é depositado em aterros, cerca de 6% é incinerado e a mesma fração é reciclada ou reutilizada; dados similares aplicam-se a muitas municipalidades da América do Norte. Os aterros predominam porque seus custos diretos são substancialmente menores que a disposição por outros meios (Baird, 2001).

No passado, os aterros eram buracos no solo que tinham sido criados durante as atividades de extração mineral – especialmente fossas antigas de areia ou pedregulho. Em muitos casos, eles vazavam e contaminavam os aqüíferos situados no subsolo; isso aconteceu, sobretudo, nos aterros que usaram fossas de areia, dado que a água pode percolar facilmente através desta. Esses aterros não foram projetados, controlados ou supervisionados e acumularam muitos tipos de resíduos, incluindo alguns perigosos. Os aterros municipais modernos são muito melhor projetados e gerenciados, freqüentemente não aceitam resíduos perigosos e seus locais são selecionados para minimizar o impacto ambiental (Baird, 2001).


INCINERAÇÃO


Além do depósito em aterros, uma outra maneira de se tratar os resíduos é através da incineração – oxidação de materiais por combustão controlada até produtos simples mineralizados, como dióxido de carbono e água. A principal vantagem da incineração do lixo sólido municipal é a redução substancial do volume de material que deve ser aterrado. No caso de substâncias tóxicas ou perigosas, um objetivo ainda mais importante é a eliminação do perigo tóxico associado ao material (Baird, 2001).

O principal problema ambiental da incineração é a poluição do ar, tanto por gases quanto por partículas. Os controles das emissões dos incinerados de lixo sólido municipal podem controlar grande parte, mas não todas as substâncias tóxicas lançadas no ar pelo processo de combustão (Baird, 2001). Portanto, é necessário supervisionar periodicamente os filtros dos incineradores e fazer uso de lavadores de gás para minimizar os gases e o pó gerado através da combustão.

COMPOSTAGEM

É o processo natural de decomposição biológica de materiais orgânicos de origem animal ou vegetal, pela ação de microrganismos. Consiste num processo biológico de decomposição controlada da fração orgânica biodegradável contida nos resíduos, de modo que resulte em um produto estável, similar ao húmus (matéria orgânica homogênea). Este produto final, o composto, preparado com restos animais e/ou vegetais, domiciliares, separados ou combinados, pode ser considerado um material condicionador de solos.

Além disso, o composto orgânico tem outros benefícios, tais como a melhoria das características físicas estruturais do solo com conseqüente aumento da capacidade de retenção de água e ar do solo, devido à ação agregadora em solos com baixo teor de argila; aumento no teor de nutrientes do solo, que contribui para a estabilidade do pH e melhora o aproveitamento de fertilizantes minerais; ativação substancial da vida microbiana e estabelecimento de colônias de minhocas, besouros e outros animais que revolvem e adubam o solo; favorece a presença de micronutrientes e de certas substâncias antibióticas; além de auxiliar o desenvolvimento do sistema radicular e a recuperação de áreas degradadas. (Souza, 2005).

RECICLAGEM

Denomina-se reciclagem a separação de materiais do lixo domiciliar, tais como papéis, plásticos, vidros e metais, com a finalidade de trazê-los de volta à indústria, para serem beneficiados. Esses materiais são novamente transformados em produtos comercializáveis no mercado de consumo (Souza, 2005).

Para se proceder à reciclagem de resíduos, a coleta seletiva deve ser extremamente cuidadosa, pois, sem esta etapa, todo o material reciclável fica sujo e contaminado, tornando seu beneficiamento mais complicado e mais caro. Além disso, a separação tem que ser feita nos depósitos, através de processos manuais ou eletromecânicos, o que exige a presença de catadores (Souza, 2005).


Nas últimas décadas, tem aumentado a pressão nos países desenvolvidos para reduzir a quantidade de material descartado como lixo após um único uso. O objetivo é a conservação das fontes naturais, incluindo a energia, utilizada para produção dos materiais, e a redução do volume de material que deve ser disposto em aterros ou por meio de incineração. A filosofia de gerenciamento de resíduos empregando os “quatro Rs” visam a reduzir a quantidade de materiais usados, reutilizar os materiais uma vez formulados, reciclar materiais mediante processos de refabricação e recuperar o conteúdo energético dos materiais caso não possam ser reutilizados ou reciclados. Estes princípios podem ser, e são aplicados a todos os tipos de resíduos, inclusive os perigosos (Baird, 2001).


A reciclagem propicia vantagens, como a preservação de recursos naturais, economia de energia, economia de transporte, geração de empregos e renda e, principalmente, a conscientização da população para as questões ambientais (Souza, 2005).

CONCLUSÃO

Embora o lixo seja considerado uma grande ameaça à vida, verifica-se que é possível minimizar seus impactos, ao se adotar medidas preventivas, abandonando práticas de consumo exagerado ou então, conscientizando a população, seja em relação ao destino ou às formas de reciclagem do lixo gerado. Assim, é necessário que governo e sociedade assumam novas atitudes, visando gerenciar de modo mais adequado a grande quantidade e diversidade de resíduos que são produzidos diariamente. Estas práticas não só reduzirão o volume de resíduos produzidos diariamente, mas também permitirão o exercício de reuso, culminando num melhor gerenciamento dos resíduos. São atitudes simples e viáveis que podem ser incorporadas cada vez mais, a fim de proteger o ar, o solo e a água, trazendo como conseqüência melhores condições de saúde humana, qualidade de vida e saúde ambiental.


Autora: Geila Santos Carvalho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CASTRO, E.N.F. de; SILVA, G.S.; MÓL, G.S.; MATSUNAGA, R.T.; FARIAS, S.B.; SANTOS, S.M.O.; DIB, S.M.F.; SANTOS, W.L.P.dos. Química e Sociedade. Capítulo 1: Química, Tecnologia e Sociedade. São Paulo: Nova Geração. 38 p. 2003.

FADINI, P.S.; FADINI, A.A.B. Lixo: desafios e compromissos. Cadernos temáticos de Química Nova na Escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química. no 1. maio de 2001. p. 9-18.

MENEZES, M.G.; BARBOSA, R.M.; JÓFILI, Z.M.S.; MENEZES, A.P.A.B.. Lixo, Cidadania e Ensino: Entrelaçando Caminhos. Química Nova na Escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química. no 22. novembro de 2005. p. 38-41.

PEREIRA, L.C.; TOCCHETTO, M.R.L.. Resíduos: É preciso inverter a pirâmide – reduzir a geração! 

SANCHES, S.M.; SILVA, C.H.T.P.; VESPA, I.C.G.; VIEIRA, E.M.. A Importância da Compostagem para a Educação Ambiental nas Escolas. Química Nova na Escola. São Paulo: Sociedade Brasileira de Química. no 23. maio de 2006. p. 10-13.

http://br.monografias.com/trabalhos/residuos-industriais-ambiente/

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http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base

=residuos/index.php3&conteudo=./residuos/artigos/lixo_fator.html (acesso em 21 de maio de 2006).

SOUZA, J.A.. Tratamento de resíduos sólidos. Informe agropecuário. Belo Horizonte: EPAMIG. v. 26. n. 224. 2005. p. 21-23.

TOMMASI, L.R. A degradação do meio ambiente. São Paulo: Nobel. 1976. p.153-156.

 

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