Em nome do desenvolvimento

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Em poucos séculos o Homem conseguiu destruir e pôr em perigo de extinção diversas espécies animais e vegetais. Cidades, metrópoles, megalópoles brotaram do chão (não são ervas daninhas?) fazendo jus à palavra desenvolvimento. As selvas verdes foram substituídas pelas selvas cinza, de concreto e pedra. Arnold Toynbee (1979), famoso historiógrafo, nos diz:

O homem tem violado e destruído a natureza em todas as partes do mundo, num efeito cumulativo de duas causas distintas, porém relacionadas. Uma delas é o acelerado avanço da tecnologia e outra é a explosão demográfica possibilitada por esse avanço tecnológico. A conquista humana da natureza tem sido brilhante, mas o uso inadequado e desastroso. A exploração da natureza tem sido feita às cegas, destruindo a beleza natural, poluindo-a e tornando-a uma ameaça, de novo.

As ações, científicas ou tecnológicas, principais causadoras desta situação, vêm imbuídas e movidas por uma palavra bastante forte, especialmente enfatizada no século passado: desenvolvimento. Por causa dele e por ele, justificam-se muitas das barbáries cometidas contra o meio ambiente. Numa visão radical do desenvolvimento, a natureza é considerada quase um empecilho. O progresso quer acontecer e precisa espaço, não importa se o meio ambiente é degradado. Age-se, então, de forma destrutiva e sem remorso, pois é em nome de uma causa “maior”: o desenvolvimento e o progresso humano.

A ciência e tecnologia atuais são dinâmicas e ativas. Substituem-se, acrescentam-se, modificam-se. Esta dinamicidade foi originada principalmente com a revolução industrial e com os princípios cartesianos de mundo. Esta forma de viver escolhida pelo ser humano criou-lhe escravidões próprias do seu agir egoísta. Escravidões contra o Outro e contra si mesmo: “O domínio da natureza pelo homem foi feito às custas de sua escravização a um ambiente artificial que é mais inadequado, tirânico e psicologicamente perturbador do que o antigo”. (TOYNBEE,1979)

O homem ousou degustar da artificialidade criada por si, numa espécie de busca egoística da felicidade. Não encontrando esta na criação, pois se julgou dominador da mesma, acreditou que a felicidade residia no seco, áspero e sem vida do objeto artificial, construído pelas suas mãos. Buscou o conforto, o prazer, o viver bem, de forma individual e egoísta, características próprias do ser humano.

O homem transformou o seu meio ambiente a fim de torná-lo adequado às suas necessidades. Dominou a natureza, mas ao fazê-lo escravizou-se ao ambiente que construiu. O homem condenou-se a viver em cidades, trabalhando em escritórios e fábricas. (TOYNBEE,1979)

Para superar tal crise devemos orientar nossas ações, baseadas numa nova ética da vida. Uma ética que envolva todas as formas de vida, uma ética orientada ao meio ambiente. Nossa ética deverá ser uma ética da criação, considerando todos os seres vivos dignos de direitos. Dessa forma a crise que vivemos poderá sofrer uma mudança de rumos e valores novos e vitais brotarão de novas ações, orientadas ao bem comum, com vistas às gerações futuras. Por enquanto somos um ser em conflito. Sabemos de nossos deveres com o meio ambiente e as gerações vindouras, de nossa relação de interdependência com a natureza, de nossa responsabilidade, porém nossas ações e posturas ainda revelam uma ânsia de poder, de dominar, de destruir. É difícil e quase humilhante para os homens da ciência, aceitar que o progresso tem limites. É quase impossível aceitar e acreditar que os animais e vegetais também são dignos de direitos e não são nossos escravos. Que não são nossos inferiores, mas têm a mesma condição que nós no universo da criação. Uma relação de fraternidade e interdependência. Depois de séculos orientando nossa vida para a exploração natural, chegamos a um ponto onde nossos atos e ações devem ser conduzidos de tal maneira que, acima de tudo, estejam a paz, a harmonia e o equilíbrio entre toda a criação.

Autor: Amarildo R. Ferrari
Palestrante na área ambiental

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