A Biodiversidade do Planeta

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A palavra biodiversidade é um neologismo popularizado recentemente pelo cientista norte americano Edward O. Wilson, que a utiliza quando se refere à diversidade biológica.

É diferente da noção de diversidade utilizada nos estudos ecológicos: esta última é um índice numérico que relaciona o número de espécies de um ecossistema ao número de indivíduos de cada uma destas espécies; como norma geral, trabalha-se com grupos concretos de organismos (especialmente plantas fanerógamas, animais vertebrados ou insetos), na intenção de se obter uma noção do grau de estruturação, complexidade e maturidade do ecossistema em estudo.

A biodiversidade, por outro lado, faz referência a toda variedade de formas de vida, ou seja, engloba todas as espécies de organismos existentes (plantas, fungos, animais, bactérias, etc.), não se ocupando, a princípio, com a maior ou menor abundância de indivíduos. A palavra diversidade será utilizada neste texto como sinônimo de biodiversidade e não como índice ecológico.

O Brasil é um dos campeões de Biodiversidade mundial.

A biodiversidade pode manifestar-se em escalas diferentes (como observado no esquema 1). Em escala decrescente aparece primeiro a biodiversidade ao nível ecológico, refletida na variedade de ecossistemas e comunidades diferentes existentes sobre o planeta. A biodiversidade, em nível específico, faz referência aos diferentes organismos que vivem em um determinado ecossistema: são os inventários de espécies. Finalmente, a biodiversidade em nível genético refere-se à biodiversidade intra-específica, ou seja, à variabilidade genética dentro de uma mesma espécie; um exemplo claro deste último aspecto é a própria espécie humana, cuja variabilidade genética tem permitido a adaptação em condições de vida muito diferentes (desde os esquimós até os bosquímanos do deserto de Kalahari, passando pelos sherpas tibetanos aos quíchuas andinos). Esta variabilidade genética constitui a biodiversidade genética da espécie, fenômeno responsável pelo desenvolvimento da evolução biológica.

O termo biodiversidade vem se popularizando recentemente, abrangendo os meios de comunicação especializados ou não. A partir da Cúpula da Terra do Rio de Janeiro em 1992, houve a atenção dos dirigentes políticos do mundo, já que este foi um dos temas prioritários, levando-os a destinarem recursos financeiros importantes para seu estudo através dos mais prestigiosos centros de pesquisas e universidades do mundo.

Mas, qual o fator responsável por este espetacular “bom” da biodiversidade? As causas diretas devem encontram-se, basicamente, na preocupação geral diante da publicação de cifras alarmantes sobre o atual ritmo de extinção de espécies de seres vivos. Em particular, no que se refere às estimativas realizadas sobre a extinção de espécies em decorrência do desaparecimento, em ritmo cada vez mais vertiginoso, das florestas tropicais. Esta idéia ampliou-se mundialmente e hoje a preocupação estende-se frente à arriscada situação na qual se encontram um grande número de espécies, muitas delas desconhecidas, diante da rápida transformação dos ecossistemas pela atividade, direta ou indireta (como a mudança climática global), da espécie humana.

Destruição da camada de ozônio, chuva ácida, erosão, poluição do ar, do solo e da água… Estes problemas, combinados com a pressão do crescimento populacional nos países em desenvolvimento e o consumo desenfreado nos países desenvolvidos, apresentam um cenário sombrio que ameaça atualmente a vida no planeta. No entanto, por mais sérios que sejam, não se comparam ao efeito amplo e devastador que a destruição em grande escala da biodiversidade tem sobre o meio ambiente.

A destruição da biodiversidade – ou seja, a perda das espécies existentes na Terra – não só causa o colapso dos ecossistemas e seus processos ecológicos, como é irreversível. Nem a mais alta tecnologia, nem as descobertas biotecnológicas, nem as imagens computadorizadas ou a realidade virtual podem compensar o prejuízo inigualável da extinção das espécies; certamente nada pode recuperar o que foi formado de forma tão singular, ao longo de bilhões de anos, na história evolutiva de nosso planeta.

A importância da conservação da biodiversidade alcançou destaque mundial durante a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Desde então, foram consolidados fundos mundiais voltados especificamente para a conservação e cresceram os investimentos de agências multilaterais e bilaterais de fomento, assim como os de fundações privadas ligadas ao meio ambiente.

Vale notar que o interesse e a consciência sobre a importância da biodiversidade também têm aumentado significativamente entre o setor privado, com um número crescente de empresas que apóiam projetos de conservação em todo o mundo. Apesar desses avanços, ainda há muito a ser feito, já que grande parte dos recursos humanos e financeiros destinados à área não são utilizados de maneira eficaz.

Dessa forma, os grandes desafios são estabelecer prioridades claras para ações de conservação e saber como investir os escassos recursos humanos e financeiros de maneira eficiente.

Partimos de um problema inicial: a biodiversidade do planeta é desconhecida, não existindo um inventário das espécies existentes na Terra. E isto não é o pior. Nem sequer é conhecido, tampouco de forma aproximada, o número de espécies que vivem em nosso planeta.biodiversidade

Na atualidade estão descritas aproximadamente um milhão e meio de espécies, das quais, cerca de 90% são conhecidas apenas por pouco mais que nome e aparência. Ou seja, têm-se alguns ligeiros conhecimentos sobre a biologia dos organismos que perfazem apenas 10% deste milhão e meio de espécies. Entretanto, o principal problema é que este milhão e meio de espécies descritas, na realidade, constitui uma pequena porcentagem do total realmente existente. Continuamente são descobertas novas espécies, especialmente em grupos como os incrivelmente diversos artrópodes (insetos, aracnídeos e crustáceos), e em outros grupos de difícil taxonomia (fungos, protozoários, vermes, nematódeos, etc.). Como dado, aponta-se que, entre 1978 e 1987 foram descritas, aproximadamente, 13.000 espécies por ano.

Todavia, não são descobertas somente espécies novas. Em 1977, em uma imersão do submergível “Alvin”, foram descobertas surgências hidrotermais nas profundidades do oceano Pacífico, onde foi encontrado um ecossistema de características únicas. Efetivamente, por volta das fumarolas das surgências, encontraram-se comunidades até então desconhecidas: vermes tubícolas de 2 m de comprimento, amêijoas e mexilhões abissais gigantes, e muitas outras espécies adaptadas às condições de elevada pressão e temperatura imperantes neste ambiente peculiar. Foram encontradas ali, desde então, cerca de 16 famílias de invertebrados anteriormente desconhecidas. Estes ecossistemas hidrotermais submarinos são, além disso, únicos por outra importante razão: sua fonte de energia não provém do Sol, mas da energia química proporcionada pela própria surgência hidrotermal, sendo aproveitada pelas bactérias quimiossintéticas que cumprem o mesmo papel dos vegetais fotossintéticos na superfície.

Partindo de várias estimativas e extrapolações, chegou-se à conclusão de que na Terra deve haver entre 5 e 30 milhões de espécies. Tão ampla variação de ordem de grandeza justifica-se por serem diferentes os métodos aplicados para estimar a biodiversidade total planetária e, evidentemente, pelo pouco conhecimento real disponível. Por exemplo, os insetos: formam o grupo com maior número de espécies descritas (umas 750.000 aproximadamente), só que, ao mesmo tempo, é um dos grupos mais desconhecidos. Os microorganismos são daqueles casos que escapam a toda estimativa confiável. As bactérias, por exemplo, são identificadas através de uma bateria de cultivos em laboratório e caracterizações bioquímicas. São identificadas, na atualidade, cerca de 5.000 espécies. A utilização das modernas técnicas de biologia molecular tem permitido, não obstante, a conclusão de que o número real de espécies de bactérias é muito maior, pois a maior parte delas são indetectáveis pela metodologia microbiológica clássica.

Em poucas palavras: existem ainda muitos organismos desconhecidos que não foram descritos até agora. E não só organismos microscópicos; em 1997 descobriu-se um mamífero novo para a ciência nas selvas do Vietnam, um pequeno cervo conhecido pelo nome local de “Muntjac Troung Son”.

O termo biodiversidade foi inspirado, fundamentalmente, pela incrível diversidade biológica das florestas tropicais pluviais, consideradas, precisamente, como os ecossistemas mais ricos em biodiversidade da Terra. A preocupação pela perda de diversidade tem sua origem, de fato, na mesma época em que se teve conhecimento do frenético ritmo de destruição destas florestas. Com base em estimativas da riqueza de espécies destas florestas, muitas delas bem especializadas e adaptadas à vida em habitats próprios, os cientistas acreditam que, caso mantenha-se este ritmo de destruição, cerca de 17.000 espécies podem ser extintas por ano. Calcula-se que a metade das espécies atuais podem se extinguir nos próximos cem anos se o atual ritmo de destruição das florestas tropicais continuar.

Exatamente pela grande reserva de biodiversidade que são as florestas tropicais, sempre destaca-se, nestes estudos, a importância dos ecossistemas terrestres, deixando de lado os ecossistemas marinhos, embora estes últimos representem 75% da superfície terrestre. Existem, no entanto, ecossistemas marinhos de uma riqueza comparável à da floresta tropical pluvial: os recifes de coral, somente encontrados nas costas de mares tropicais. Diferentemente do que ocorre nas florestas, onde tudo é oculto à vista, no recife de coral é relativamente fácil ver, ao menos, parte da riqueza de espécies que abriga: em um só recife de coral australiano podem ser encontradas até 500 espécies de peixes, mais do que em todo o mar Mediterrâneo.

Os recifes de coral estão intrinsecamente ligados a outros dois ecossistemas costeiros tropicais: os campos de fanerógamas, ou pastagens marinhas, e as florestas de mangue ou manguezais, onde vivem as fases juvenis daqueles organismos que ao crescerem povoarão o recife. Tal qual ocorre com as florestas tropicais, todos estes ecossistemas costeiros estão sendo gravemente afetados: alterações nas zonas costeiras, operações pesqueiras, contaminação e turismo são suas ameaças. Entretanto, apesar de no mar as extinções não ocorrem ao mesmo ritmo que nos ecossistemas terrestres, começa-se a observar indícios perigosos (como o branqueamento e a mortalidade maciça de corais, por exemplo), que podem atingir, pelas características do meio marinho, um alcance muito mais global que os casos terrestres.

Como principais causas pela perda mundial da biodiversidade deve-se apontar principalmente a destruição dos ecossistemas, tanto terrestres como marinhos, especialmente nos trópicos, a introdução de espécies exóticas em ecossistemas que não lhes são próprios, a má gestão de populações selvagens, que podem se disseminar chegando a eliminar as espécies autóctones; e a contaminação do meio, afetando tanto em escala local como global.

As razões últimas de todos estes fatores são, naturalmente, humanas. Segundo a UNESCO, trata-se do uso incorreto de recursos, a partir de uma visão excessivamente utilitarista do mundo, também imposta pelo fenômeno do colonialismo, pela má planificação e gestão econômica e política, assim como pela pobreza endêmica e o aumento descontrolado da população naquelas áreas onde existe uma biodiversidade mais rica, precisamente na maioria dos países do Terceiro Mundo.

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